O primeiro semestre de 2020 acabou. E qual foi a sua sensação? O seu balanço? Desse lado do balcão vimos empresas buscando avidamente por análises dos estragos corporativos causados pela pandemia. Sim, os diagnósticos tornaram-se caminho obrigatório para qualquer porte de empresa se localizar no meio desse tsunami que chegou sem alarmes tocando. Se não fosse pela velocidade arrebatadora que devastou o mundo, alguns mais céticos poderiam até hoje desdenhar da onda que vinha se formando para engolir os sinais de prosperidade cintilantes na economia brasileira.
E no mercado? Tudo ficou mais acelerado. A tímida transformação digital deu as caras e se fez ser entendida por osmose. A excelência operacional virou emergência operacional. Aqui dá para dividir em três perfis de maturidade de negócio: aquela empresa que já vinha trabalhando de forma planejada para otimizar a operação; tem a empresa que estava pensando em otimizar a operação e, de repente, acelerou os passos. Por último, a empresa em estado emergencial, que ao invés de estar em home office, está dentro de hospital office, operando a partir da UTI.
Mas afinal de contas, o que tudo isso tem a ver com o título deste artigo? Vamos lá. Tem algo mais acelerado neste momento. É o entendimento daquela velha regra de RH que afirma firmemente: “as pessoas são contratadas pelos seus hard skills (técnicas) e demitidas pelos soft skills (comportamentais)”. De fato, a pandemia trouxe à tona alguns ditados e provérbios corporativos antes escanteados pela ferocidade do cotidiano.
Apenas quando abrimos os noticiários, nos damos conta de que esse fato é alarmante. Segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a COVID-19 que esvaziou hotéis, aeroportos, comércios e fábricas, e acarretou milhares de demissões no Brasil. A indústria, enquanto isso, paralisou 40% de suas linhas de produção. Estamos falando de um cenário ainda amenizado no começo de abril, com a Medida Provisória 936, que permite acordos individuais e coletivos entre funcionários e patrões para reduzir salários e jornadas de trabalho – preservando, em contrapartida, os empregos.
O setor de bares e restaurantes demitiu 350 mil trabalhadores no Brasil até o dia 10 de abril. Enquanto isso, 212 mil pessoas se cadastraram como entregadores de comida no iFood, em março. A indústria de máquinas e equipamentos demitiu, em março, 11 mil empregados. No dia 23 de março, o aeroporto de Congonhas – o mais movimentado do Brasil – tinha 226 decolagens programadas. Em 18 de abril, o aeroporto tinha só 1 decolagem programada. Informou a Abimaq.
À medida que a transformação digital inunda o mercado, com inteligência artificial, robótica, entre outros, os profissionais também precisam acompanhar a evolução, com alfabetização de dados, pensamento crítico e habilidades ligadas à tecnologia. E neste ponto, habilidades interpessoais como inteligência emocional e a plena capacidade de se adaptar a diferentes culturas de colaboração, idem. Então é possível afirmar que as competências técnicas são importantes, mas as competências comportamentais (soft skills) são essenciais nos dias de hoje?
Infelizmente, assim como vimos algumas tendências sendo aceleradas em função da pandemia, vamos ver, sorrateiramente, alguns vilões mostrando suas garras para atrapalhar a retomada dos negócios. O burnout, a insuficiência das competências transversais e a falta de habilidade em enfrentar situações inusitadas e a mudança/acúmulo de funções na empresa em poucos meses certamente vão interferir negativamente na performance da operação. Pense nisso!
Francisco Loureiro
Presidente da Proudfoot Brasil