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A verdade inconveniente sobre o Home Office

Por que alguns profissionais tomam decisões acertadas rapidamente enquanto outros parecem nunca fazer a escolha certa? Por que algumas pessoas conseguem seguir a intuição com sucesso enquanto outras cometem grandes erros? Malcolm Gladwell, autor do livro Blink: A Decisão Num Piscar de Olhos, analisou estudos psicológicos e neurológicos para abordar a nossa capacidade de julgar, decidir rapidamente e fazer escolhas sem muita reflexão.

Menciono Gladwell porque se analisarmos bem, a pandemia do covid-19 e o confinamento em diversos países levaram à necessidade de as empresas funcionarem com a maioria de seus quadros em home office. O fato de boa parte das pessoas contar com plano de dados ou banda larga, além da disponibilidade de ferramentas de videoconferência, possibilitou uma transição relativamente suave. No geral, este modelo funcionou a contento.

Algumas empresas rapidamente anunciaram, meio que por intuição, a adoção do home office até o fim de 2020. Outras, mais vanguardistas, já decretaram o modelo indefinidamente aos seus colaboradores. Isso ocasionou a devolução de lajes comerciais e o redimensionamento de espaço para um número menor de pessoas com postos permanentes no escritório.

Se pensarmos bem, a experiência de poucos meses em home office é pouco representativa. Tratou-se de um período onde havia muitas incertezas ocasionadas pela pandemia e, portanto, inovação não foi uma pauta premente nas companhias. As pessoas ocuparam-se majoritariamente de processos e percebeu-se uma produtividade elevada. Mas esse é o arquétipo da conclusão precoce baseada em premissa equivocada: assim como ninguém toma uma decisão por ter passado por uma pandemia, nenhuma companhia prospera, nem mesmo se mantém, apenas cumprindo processos como sempre fez.

O cérebro humano, segundo o autor de Blink, baseia-se em duas estratégias para tomar uma decisão. Uma delas é a análise consciente e lógica de informações, que aponta vantagens e desvantagens para chegar em uma conclusão racional. Este processo é mais lento e consome muita energia do cérebro. A segunda estratégia é rápida, como um piscar de olhos, e é baseada no instinto, por isso capaz de tomar uma decisão de uma forma extremamente veloz.

Para tomar uma decisão, muitas vezes é mais simples focar em alguns pontos específicos e usar estas pequenas fatias para desenvolver uma opinião mais complexa sobre aquilo. Gladwell batizou esta técnica de Thin Slicing, que é baseada em usar a sua habilidade mental inconsciente para encontrar padrões em comportamentos e situações, mesmo que pautado em pequenas experiências. Como o cérebro inconsciente é altamente eficaz no processo de isolar informações, podemos fazer julgamentos precipitados. Ou seja, é preciso negar os seus julgamentos precipitados inconscientes para conseguir tomar decisões melhores.

Por isso, reflita a respeito da sua vida. Quais são as áreas em que você tem limitações em função de preconceitos e experiências? Como você pode filtrar estes elementos para eliminá-los dos seus julgamentos e, por consequência, tomar decisões melhores?

O home office, de fato, desfavorece a inovação no negócio, que é caminho crítico para a evolução da companhia? Os profissionais sentem a necessidade de se encontrarem fisicamente. No trabalho remoto, isso é simplesmente impossível. Portanto, algumas equipes certamente perderão em criatividade coletiva. A empresa pode estar economizando despesas de aluguel no curto prazo e tornando a vida dos colaboradores mais fácil, porém cria brechas para concorrentes que melhor preservem sua capacidade inovadora, o que pode custar muito caro no longo prazo.

Produtividade individual x coletiva

O trabalho remoto funciona bem individualmente. O resultado é maior do que o normal, afinal as pessoas se fecham em suas “ostras” domésticas e ficam como loucas de 8 da manhã às 8 da noite, engolindo um almoço em 15 minutos. Há a sensação de muita produção, mas a maior parte é cumprimento de processo. Por outro lado, a produtividade coletiva é péssima. As reuniões virtuais são ineficientes, os horários são controlados com mais dificuldade e exige uma formalização para todos os assuntos. Nesse modelo será necessário “call” para tudo, mesmo para assuntos que demandariam um bate-papo de dois minutos presencialmente.

Numa situação presencial, o cérebro despenderia energia em outras decodificações. Por exemplo, qual a expressão corporal de cada participante, que representa 55% da comunicação de uma conversa? Quem passou no corredor? Vale a pena pedir um café para acalmar os ânimos?

Como a interação com outras pessoas é inevitável, no longo prazo o home office drenará energia de seus usuários e a sensação de alta produtividade tende a cair, exceto em equipes estritamente processuais onde a produção é majoritariamente individualizada, como por exemplo em programação computacional. Os próprios colaboradores que hoje dizem preferir o home office vão mudar de ideia com o tempo. Afinal de contas, somos seres sociais.

Impacto na saúde

Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGVSaúde) com 533 pessoas, entre os meses de junho e julho de 2020, ilustra os desafios dos trabalhadores brasileiros no home office. Vários sintomas físicos foram relatados pelos respondentes, com uma frequência maior (ou pouco maior) que o habitual:

Além disso, outros sintomas físicos foram relatados com frequência maior que o habitual:

Conforme demonstrado por fatos, adotar o home office em caráter permanente pode esconder uma verdade inconveniente. Você já está medindo os impactos desse modelo no seu negócio, tanto no RH quanto na lucratividade? Existem pontos críticos que apenas a intuição não trará a sua melhor solução.

Francisco Loureiro
Presidente da Proudfoot Brasil

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